Nos últimos quinze anos, o setor ferroviário mundial tem vindo a atravessar uma profunda transformação digital. Sistemas tradicionalmente analógicos, como a sinalização, bilhética e comunicação com os passageiros, foram progressivamente substituídos por soluções digitais integradas. Esta evolução tecnológica, impulsionada pela necessidade de modernizar operações, melhorar a eficiência e responder à crescente procura por transportes sustentáveis, trouxe consigo novos riscos — entre os quais se destaca a crescente ameaça à cibersegurança.
A digitalização generalizada das infraestruturas ferroviárias trouxe inegáveis benefícios operacionais, desde a redução de custos à melhoria da experiência do passageiro. Contudo, também abriu portas a potenciais vulnerabilidades que, se exploradas por agentes maliciosos, podem comprometer seriamente a segurança, a continuidade operacional e a confiança dos utilizadores.
Com os avanços nas tecnologias de sinalização e a crescente incorporação de sistemas baseados em Inteligência Artificial (IA), prevê-se que, num futuro próximo, os comboios venham a operar de forma completamente autónoma. Esta automação, embora promissora, aumenta a dependência das redes digitais e torna os sistemas ferroviários alvos ainda mais atrativos para ciberataques.
Um dos exemplos mais evidentes desta transformação é a substituição dos cabos de cobre por cabos de fibra ótica nas caixas técnicas junto às vias. “Os cabos de fibra ótica não têm valor comercial como os de cobre”, explica Olivier Haven, gestor global de contas da nVent Schroff. “No entanto, esta transição implica que o ‘cérebro’ da rede ferroviária está agora acessível ao público em geral de uma forma que antes não estava.”
A observação de Haven sublinha um ponto crítico: a exposição física de componentes digitais sensíveis. Embora a fibra ótica traga vantagens em termos de desempenho e segurança passiva (como a não suscetibilidade à escuta eletromagnética), ela representa também uma nova superfície de ataque. Com ferramentas relativamente acessíveis, é possível interferir com os sinais transmitidos, provocar disrupções nos sistemas de controlo ou mesmo infiltrar malware em redes interligadas.
Neste contexto, os operadores ferroviários enfrentam o desafio de adotar um novo modelo de cibersegurança, centrado não apenas na proteção de perímetro, mas numa abordagem em camadas, que inclua a monitorização contínua, a segmentação de redes e a resposta ativa a incidentes. A segurança não pode ser tratada como um elemento isolado, mas sim como uma função transversal a toda a arquitetura ferroviária — desde os sensores ao centro de controlo, passando pelas redes de comunicação e pelas interfaces com o utilizador.
Para além das ameaças técnicas, existe também uma dimensão estratégica e organizacional. A interconectividade entre operadores, entidades reguladoras, fabricantes de equipamentos e prestadores de serviços cria um ecossistema complexo, onde a segurança de um depende da robustez dos outros. Assim, torna-se essencial a definição de normas e políticas de cibersegurança coerentes, bem como a realização de auditorias regulares, testes de intrusão e exercícios de resposta a incidentes.
A formação contínua dos recursos humanos é igualmente fundamental. Os sistemas podem ser tecnologicamente avançados, mas continuam a ser operados e geridos por pessoas. A consciencialização para os riscos, a implementação de boas práticas e a capacidade de resposta rápida a comportamentos anómalos são fatores críticos para mitigar potenciais ataques.
Por outro lado, a cibersegurança deve ser pensada desde a conceção dos sistemas — o chamado “security by design”. Em vez de ser uma preocupação posterior à implementação, a segurança deve estar integrada desde as fases iniciais do desenvolvimento de hardware e software. Esta filosofia de design contribui para reduzir vulnerabilidades e facilitar a manutenção da integridade operacional ao longo do ciclo de vida dos sistemas.
À medida que os investimentos em infraestrutura ferroviária aumentam — motivados pela necessidade de descarbonização e pela aposta em soluções de mobilidade mais eficientes —, torna-se imperativo que a cibersegurança acompanhe essa evolução. A proteção contra ataques informáticos não é apenas uma questão tecnológica, mas sim um imperativo de segurança pública e de resiliência nacional.
O futuro da ferrovia é, inevitavelmente, digital. Mas para que esse futuro seja seguro, é necessário reconhecer que a cibersegurança deixou de ser uma preocupação periférica e passou a ser uma componente central da operação ferroviária. A transformação digital traz oportunidades, mas também responsabilidades — e a capacidade de proteger essas infraestruturas críticas determinará o sucesso (ou fracasso) desta nova era ferroviária.
A nVent SCHROFF, representada em exclusivo para o mercado português pela SAE – Sistemas de Automação e Energia, Lda, é uma marca de referência internacional na área de armários de eletrónica, conhecida pela sua qualidade e fiabilidade. Com um know-how de mais de seis décadas, desenvolve soluções que respondem às exigências de sectores como o industrial, ferroviário, militar e telecomunicações. Os seus produtos asseguram proteção mecânica, térmica e contra interferências eletromagnéticas. A engenharia de precisão e a durabilidade são marcas distintivas da nVent SCHROFF.
Artigo de 29/10/2025
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